segunda-feira, 3 de setembro de 2007

IGNORÂNCIA CAMUFLADA

  1. Vejam só que ironia, quando eu pensei fazer parte de um grupo minórico agraciado com o acesso educacional, quebrei a cara e mergulhei no universo de minha própria ignorância. Descobri possuir uma insipiência camuflada. Uma ignorância emoldurada que, durante anos, escondeu-se por detrás de um português bem escrito e algumas poucas palavras elegantes.

    O Brasil é uma nação de corruptos. Um País corroído pela podridão política e pela escassez cultural, isso é fato. Também não se pode negar que os antecedentes históricos contribuem para essa crise infindável. Porém, o maior problema do brasileiro não se encontra nem na política, nem no passado, mas, sobretudo, no conformismo do presente, que infecciona e mancha a honra de cada um dos seus habitantes.

    Eu realmente acreditava ser mais inteligente do que os outros somente por crer que, ao Brasil, não há solução. Por certificar-me de que o futuro é um reflexo puro e certo do presente escuro, e, confesso, apenas contribuí com o crescimento de uma ferida de tamanho já suficientemente grande. Reconheço, encontrava-me cego.

    O crescimento de qualquer nação se dá por meio de reivindicações. Não se pode agradecer a Deus por toda e qualquer desgraça somente por acreditar que o pior, no fundo, poderia ser pior ainda. Se o brasileiro perde um braço agradece por não haver sido os dois; se não tem almoço, agradece pelo jantar; e se não tem jantar agradece por estar vivo. É o mal do “graças a Deus”, uma enfermidade que impossibilita qualquer crescimento.

    Mas é preciso ter consciência de que esse conformismo é a nascente do problema. Devemos gritar. Precisamos cobrar e ir à luta, não apenas berrando da boca para fora e sem fundamentação, mas com embasamento e real vontade de vencer. Precisamos defender o Brasil dessa estampa negra que, além de podre, é contagiosa.

    Se uma brasileira vem à Europa é prostituta, se é um brasileiro é cafetão. Esse é o nosso retrato: Carnaval, sexo, bundas e peitos, pois o brasileiro não é capaz de pensar. Por vezes, sentimo-nos mal com os olhares atravessados e injúrias descabidas. Temos as nossas falhas, mas é, certamente, injusto aplicar a lei da generalização. Se o vizinho rouba, que cortem suas mãos. Mas não destruam minha honra com uma sujeira que não me pertence.

    Também confesso que esse estereótipo nunca me incomodou. Contudo, vivencidando o problema no dia a dia, sinto nojo desse meu conformismo que, por vezes, já fez-me rir dessa obscuridade. Tudo sempre foi engraçado. E aí está um outro problema: “o rir para não chorar”. Não devemos esconder nossas lágrimas por detrás de sorrisos falsos e dolorosos.

    Em vez de rir, é preciso cobrar. Exigir melhores condições de vida. Pôr o intelecto em uso na busca de bons frutos. Um processo demorado, mas válido. Uma árvore não cresce da noite para o dia, mas, com os anos, ela poderá oferecer sombra e alimentos.

    Amemos nossa Pátria e lutemos por sua honra. Não permitamos toda e qualquer forma de difamação. Não devemos ser tão duros com nós mesmos. Acreditemos que uma solução será encontrada e, assim, estaremos dando o nosso primeiro passo.